terça-feira, 3 de agosto de 2010

Paiol – A praia da minha infância

A praia do Paiol situa-se na aldeia da Praia da Assenta, entre Santa Cruz e Ericeira. É a praia da minha infância. Desde que me lembro de existir que conheço esta praia. Nela vivem recordações que me são vitais. Foi lá que aprendi a nadar, foi lá que aprendi a pescar com os meus avós, era lá que se juntava a família todos os Verões para uma grande pescaria e uma sardinhada. Depois com o que se apanhava da pesca, ao entardecer, fazia-se uma sopa de Peixe deliciosa , como só a minha mãe e a minha avó sabiam fazer.

IMG_0390

Esta praia agreste e de difícil acesso é um segredo que felizmente continua bem guardado e que em pleno Agosto nos presenteia com um areal completamente deserto.

IMG_0424

Foi sempre frequentada pelas gentes da aldeia que se dedicam à pesca . Hoje mais por desporto, antigamente como modo de sobrevivência.

IMG_0435

Quando aqui venho de férias não posso deixar de vir ao Paiol. Gosto de ser a primeira a pisar o areal intacto e de me sentar numa qualquer rocha cheia de lapas olhando o horizonte, escutando o  silencio ruidoso do bater das ondas. Penso  nas manhãs enubladas , quando os meus avós me faziam levantar a custo e me punham na mão o “cufinho”, um pequeno cesto de verga com uma boca estreita, uma pequena cana da índia denominada  “polveira”, e o camaroeiro. Assim equipada partia ainda ensonada para mais uma manhã de faina. O meu cufinho raramente trazia o fundo tapado pois mal o sol descobria largava a pesca e as frias águas não me demoviam de banhos atrás de banhos, até os meu semblante se transfigurar numa máscara roxa e as mãos e os pés se entorpecerem de frio. Sentada na areia comendo uma fatia de pão com marmelada, esperava os meus avós que desciam e subiam incessantemente pedras de todos os tamanhos e feitios, procurando o melhor pesqueiro.

IMG_0430

A pesca à “certela” como aqui é denominada, utiliza a tal polveira que é tão simplesmente uma cana da índia na qual se ata numa das extremidades um colar feito  de lapas e minhocas das rochas. Acompanha-se a dita polveira com o camaroeiro que leva dentro sardinhas salgadas com alguns dias, para engodar o peixe. A polveira é cuidadosamente introduzida nas pequenas poças por entre as pedras e depois esperamos pacientemente que algum polvo, moreia, caboz ou navalheira sinta o sabor do engodo e que caia dentro do camaroeiro enchendo fartamente o cufinho.

IMG_0397

São todas estas memórias, estes saberes que me fazem inevitavelmente voltar à praia da minha Infância, revê-la mais uma vez com a agradável sensação de que parou no tempo apesar de uma certa nostalgia que sinto quando olho para as rochas e já não vislumbro nenhum vulto retornando da pesca para vir ter comigo à praia.

IMG_0425